Nota de Boas Vindas

“Estamos convencidos que a aposta que fizemos na formação de professores/educadores continua a ser a mais desafiante, pois é gente como a nossa que poderá ajudar a crescer os cidadãos de amanhã.”

Vivemos num mundo menos complicado, mas muito mais complexo. Experienciamos também uma realidade incerta e probabilística, longe das certezas que antigamente julgávamos existir e que sustentavam uma conceção de vida controlada e previsível. Se bem que estejamos a tentar compreender esse mundo novo, não sabemos ainda como geri-lo e as pressões que diariamente nos confrontam surgem, por vezes, como ameaças à vida frágil que continuamos a construir. Aliás, a nossa fragilidade e a do ambiente que habitamos é algo que raramente tenha sido considerado pela política e ciência tradicionais. Estávamos convencidos de que o homo sapiens sapiens e os recursos de que dispunha eram inesgotáveis e capazes de serem renovados ou substituídos. O avanço fulgurante da tecnologia nos últimos trezentos anos provocou alterações vertiginosas ao nosso quotidiano, à maneira como viajamos, comunicamos, pensamos e aprendemos. Duma filosofia de vida centrada no indivíduo vemo-nos de súbito imersos num mundo globalizado, sistémico e aberto à possibilidade.

Estamos nos limites das nossas capacidades existentes. É evidente que vamos encontrar caminhos que nos levarão a outros patamares de descrição e compreensão do mundo. Pois como racionalizar a competitividade agressiva, desregulada, obsessiva que nos envolve? Como imaginar pontos de encontro sociais, políticos e religiosos? Como sarar um planeta doente pela destruição sistemática dos seus ecossistemas, por crises, como a climática que só pode ser gerida por altos níveis de cooperação entre os povos, ou desafios despoletados por assimetrias sociais, radicalizações ideológicas, ou ineptidões políticas?

Há sempre a educação, se bem que não hajam consensos sobre como educar ou para quê! Todavia, a escola não é um lugar de chegada, mas sobretudo uma rampa de lançamento para a descoberta daquilo que não se conhece ou compreende. Não vamos conseguir resolver problemas presentes ou futuros com conhecimentos do passado. Exige-se a liberdade para pensar, discutir e imaginar. E gerir o tempo, que parece escassear. Finalmente, urge aprender a decifrar o mundo. Urge saber fazer perguntas que nos levem a outras maiores e mais incisivas. O significado de tudo isto é a reinvenção da escola como um laboratório de investigação que vive da formulação de hipóteses e não como um espaço onde impera a verdade científica de respostas quantas vezes ultrapassadas. Importa recordar que uma verdade científica só o é enquanto não for substituída por outra verdade.

Este mundo relativo e em constante mudança (porque vive na aprendizagem e o conhecimento produz mudança) vive mais da imaginação que do saber conhecido. Isto significa que não há respostas para a esmagadora maioria dos problemas que nos assolam. As abordagens possíveis de os gerir são descobertas todos os dias e por todas as pessoas interessadas na construção dum mundo razoável. Numa citação atribuída a Einstein, um dos ícones do século vinte, diz ele: A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado a tudo aquilo que sabemos e compreendemos, enquanto que a imaginação abraça o mundo inteiro, e tudo o que alguma vez viremos a conhecer e a compreender. Os processos educativos não são necessariamente os mais eficientes, mas constituem decerto a garantia maior de desenvolvimento humano.

A Escola Superior de Educação João de Deus, e os cinquenta e quatro jardins-escolas e centros educativos espalhados por todo o Portugal, foram criados nessas premissas e afirmam-se numa visão do mundo que considera o ser humano como o catalisador da mudança e que vive na esperança de que através da educação seremos capazes de o transformar. O mundo que nós queremos construir fundamenta-se na democracia como a maneira mais inclusiva de decidir, na justiça que empresta à democracia um conteúdo moral, e na liberdade que define o espaço-tempo em que a vida emerge. Desde a sua fundação que a nossa “pedra de toque” tem sido capacitar os nossos alunos – futuros professores/educadores – para a intervenção política, social e profissional capaz de alterar mentalidades e reinventar o mundo.

Estamos convencidos que a aposta que fizemos na formação de professores/educadores continua a ser a mais desafiante, pois é gente como a nossa que poderá ajudar a crescer os cidadãos de amanhã. Será isso que vos espera ao optarem pela nossa filosofia formativa. Preocupa-nos a certificação de competências e a renovação da qualidade educativa. Esta é a leitura que faço, na qualidade de Presidente desta Associação, atento, preocupado e informado que estou do contexto em que nos movemos. Em meu nome e no de todos os colaboradores da Escola Superior de Educação João de Deus, desejo que no final da vossa formação estejam aptos a ajudar os vossos meninos e meninas a desenvolver as capacidades, destrezas, habilidades, conhecimentos, valores e atitudes fundamentais para a mudança, para que sejam felizes e tenham sucesso na vida. Valorizamos a ajuda no desenvolvimento das denominadas “Soft Skills” essenciais para um futuro melhor.

Esta Escola Superior orgulha-se do seu passado, mas vive com os olhos no futuro.

António de Deus Ramos Ponces de Carvalho

Presidente da Direção da Associação de Jardins-Escolas João de Deus